XXIII domingo comum – Ano A

Hoje a liturgia da Palavra trata de um assunto muito concreto para todos nós que vivemos numa comunidade. Por mais maduros que sejamos, por mais boa vontade que tenhamos nós nos ofendemos mutuamente ou fazemos coisas que irritam o outro.

Por: Dom Sergio Eduardo Castriani

O que fazer nestas situações que podem virar uma bola de neve e estragar todo o ambiente, tornado o ar irrespirável e implodindo a vida em comum?

 A primeira regra de quem vive em comunidade é dizer para quem ofendeu você, como você está se sentido e não correr e falar para o primeiro que encontrar. Se você não tem coragem de falar com quem te ofendeu, ou fez uma coisa errada, fique calado e não diga nada para ninguém, para não virar fofoca. Se ele não ouvir você chame duas testemunhas e fale de novo.

As testemunhas são garantia que o problema não ganhe proporções indevidas mas fique dentro da comunidade. Se o assunto é grave mesmo e o indivíduo não se emenda talvez seja o caso de expulsá-lo da comunidade, mas esta decisão é muito séria e deve ser tomada com a participação de todos.

Quanta fofoca e quanto desgaste seriam evitados se fizéssemos como o evangelho prevê. A outra condição para vivermos bem numa comunidade é a que a exigência para a vida comunitária é o amor mutuo. Numa verdadeira comunidade todos se sentem livres. Ninguém que ama faz mal ao amado. Acreditar na boa vontade do outro e fazer o bem sempre que precisar é condição de uma vida em paz.

No profeta Ezequiel vemos que alguns são escolhidos por Deus para serem vigias da casa do Senhor. Estes devem alertar os outros quando veem alguma coisa errada. São responsáveis. Na vida familiar são os pais que exercem esta função. Na Igreja, padres e bispos, tem esta função. Mas todos somos chamados a profecia.

A capacidade de viver em comunidade e a nossa adesão a uma comunidade concreta e a medida de nossa adesão ao evangelho e a vida nova que Jesus nos trouxe. É perdoando o irmão que nos ofende, engolindo em seco quando vemos algo que não gostamos, conversando a sós com quem me fez de palhaço, falando pouco e escutando muito.

Quando se sabe a força da palavra que pode destruir relacionamentos, estragar o bom nome das pessoas, que tem direito a ter o nome livre de acusações muitas vezes sem provas. Jesus dá à comunidade o poder de ligar e desligar. Isto não é poder mas responsabilidade. Se a comunidade não perdoar, o pecador não experimenta o perdão. 

A oração comunitária também é mais seria diante de Deus e quando dois se põe de acordo ela é mais eficaz. A promessa de Jesus que ele está onde dois ou três se reúnem em seu nome é de fundamental importância para nós na Amazônia, nas comunidades que se reúnem aos domingos. A experiência cristã é uma experiência de amor. Este amor só pode ser vivido em comunidade.

As comunidades são humanas e tem problemas. Como se resolvem os problemas? Na paz e na liberdade que são os frutos do amor. A velha regra de não fazer para o outro aquilo que você não quer que façam para você, é a regra que possibilita a convivência e da testemunho de fraternidade.

Dom Sergio Eduardo Castriani Bispo Emérito da Arquidiocese de Manaus

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